Logo na entrada da galeria, um sensor de movimento ativa um aspirador de pó que faz um barulho estrondoso, como se a galeria não estivesse pronta para receber. O barulho aborrecido torna o ambiente hostil. À direita, uma cortina de bambu, dessas caseiras que separam ambientes, convida a entrar em uma sala onde encontramos um carrinho de bebê coberto com uma toalha.
Em outra sala, uma serigrafia de Mao é sobreposta por um texto tirado de um catálogo da Ikea, algo como "se quiser conhecer profundamente alguém, olhe para a casa e os objetos dessa pessoa". A Ikea é uma cadeia sueca de móveis onipresente nas casas européias, pois vende produtos de design interessante a preços realmente baixos. As lojas são enormes e costumam ficar em periferias perto das grandes cidades - você pode achar todos os "estilos" dentro dela.
O mapa da França foi desenhado na parede por centenas de fósforos e no fim da exposição foi queimado. Claire Fontaine é um coletivo francês que emprestou o nome de uma marca de papelaria bem conhecida, a Tilibra local. Podemos rotular suas obras de "arte e política" porém os trabalhos fogem na maioria das vezes da ilustração literal e óbvia de um discurso engajado. Como nesta exposição. O assunto aqui é a impossibilidade da vida contemporânea nas grandes cidades, como Paris. Abaixo, o texto da exposição escrito pelo coletivo:
We remember that our first home is our body and that its inhabitants are our thoughts and our loves. We remember that life doesn’t have a price, and the places where it happens mustn’t have one either.
We remember that streets and apartment buildings are there because they are part of a world in which there is money– but there’s also blood, thoughts, childhood, solitude and illness. A world in which there is a need for money – but also a need for love, work done passionately, the urgency of being together.
Space forgets us. Space is crowded with precursory signs of a new drought. We buy a fragment of Paris, we double-lock it, we go through two doors with access codes, and a caretaker’s lodge, and we do nothing there that we couldn’t do elsewhere. We are going to fill it up with secondhand furniture painted pastel colours, we will put a coloured bead curtain in the kitchen doorway, a rug in the living-room, orchids in white pots and coloured lights around the mirror over the fireplace. We will have a bowls with fresh fruits in the kitchen, green plants in the living room, a beautiful bed-couch and bedrooms painted in clear blue. We are going to climb the wooden stairs with their red carpet before we stick our key in the lock and realise that we were wrong. We realise that this is not the present and can’t be the future. That in this fragment of Paris there is no room for anybody. We realise – as we lean on the antique railing of the window to smoke a cigarette and check our cell phone – that we are irreparably alone and that it is too late. For a life at 7500 € per square metre is not an innocent life, it isn’t an accessible life, it isn’t an open, free, adventurous, interesting life. It is a private life.