31.8.11

Anish Kapoor | Monumenta | Grand Palais




A Monumenta deste ano convidou Anish Kapoor para desenvolver um trabalho inédito no Grand Palais. Kapoor fez então o que se esperava dele: uma instalação monumental. Nos metrôs, diversos cartazes anunciando a exposição colocavam o rosto do artista em destaque, algo não é muito usual nas artes plasticas, deixando claro a importância dele e do evento. Esta seria uma exposição imperdível.


O Grand Palais foi construído em 1900 para abrigar uma Exposição Universal, evento cultural de massa que trazia para o público europeu curiosidades e atrações vindas de todo o mundo. A construção de aço e vidro, prevista para ser desmontada logo em seguida, assim como a Torre Eiffel permanece até hoje. Atualmente, o Grand Palais sedia eventos, como a FIAC (Feira de Arte Contemporânea), retrospectivas de cânones da arte como Monet que atraem multidões e a Monumenta, evento anual que convida grandes artistas para criar um trabalho específico para o local. Nas outras edições, foram convidados Christian Boltanksi, Richard Serra e Anselm Kiefer. O desafio é ocupar a extensão do Grand Palais, porém, sem preenchê-lo de forma gratuita.


Kapoor construiu uma única estrutura inflável que compreende três esferas interligadas. Acessamos o seu interior por uma porta giratória: lá dentro é abafado e escuro, a lona vermelha tem alguma transparência que permite a passagem da luz do sol, o que nos possiblita enxergar a arquitetura do Grand Palais através das sombras das vigas de aço. Grandes buracos apontam para lugares que não podemos ir, é um espaço enigmático. A primeira surpresa ao sair de dentro da estrutura é perceber o ambiente em que estávamos pelo lado de fora, pois o tamanho da coisa é impressionante. Esse é o grande trunfo desta obra: seu porte monumental. É sua magnitude que nos faz reconsiderar a escala do Grand Palais. A ocupação do espaço, porém, é bastante esquemática, com uma esfera ocupando cada uma das três cupulas do lugar. Retomando a vocação da Exposição Universal nas origens do Grand Palais, a Monumenta de certo modo também pretende atrair um público numeroso para ver curiosidades e desta vez foi um Leviathan de três cabeças trazido das Índias. Ao contrário de outras exposiçoes de arte contemporanea, o público não sai de lá decepcionado, pois são artistas consagrados realizando obras espetaculares. Como não se seduzir pela escala, quantas vezes presenciamos algo assim?

30.8.11

Musée de la Chasse et de la Nature

Confesso que só pensei em visitar o Musée de la Chasse et de la Nature (Museu da Caça e da Natureza) quando soube que eles mantém um programa regular de exposições de obras contemporâneas. Descobri um dos museus mais pitorescos e interessantes daqui e, ainda, vazio. Fica no Hôtel Guénégaud, uma mansão do século XVII, no bairro do Marais. No acervo, muitos animais empalhados, pinturas com tema de animais (algumas emprestadas do Louvre, como duas naturezas mortas de Chardin), objetos de caça e documentos. A museografia simula os interiores de uma mansão de um colecionador do século XIX, com móveis de época, papel de parede rebuscado, pinturas amontoadas nas paredes e esculturas sobre mesas e aparadores. Um ambiente quase kitch. Não há etiquetas explicativas para as peças (o que geralmente achamos nos museus históricos) ou mesmo qualquer tipo de texto nas paredes e as obras contemporâneas estão expostas sem qualquer distinção. Cada sala tem apenas uma prancheta com informações gerais sobre o agrupamento feito ali e alguns créditos.
O artista Mark Dion, que pesquisa entre outras coisas gabinetes de curiosidades, apresenta uma instalação no museu, uma salinha com objetos da coleção, simulando a cabana de um explorador. Jeff Koons também está lá com uma escultura de cachorrinho, destoando das outras cerâmicas apenas pela falta de acabamento. Uma peça de Rebecca Horn está em uma parede logo ao lado um urso polar empalhado de dois metros de altura que chama mais atenção. O engraçado é que o museu é tão descontextualizadas que as peças contempoâneas quase passam despercebidas; a cabana de Mark Dion destoa quando é apresentada dentro um cubo branco, porém, neste museu, ela perde força justamente por mimetizar o resto do ambiente. 
Uma sala impressionante é a Sala dos Troféus, onde dezenas de cabeças empalhadas de animais abarrotam a parede. Uma dessas cabeças é um trabalho camuflado do artista francês Nicolas Darrot, em que o animal solta uns grunhidos de vez em quando, mexendo a mandíbula e os olhos. O teto desta sala tem uma grande pintura mural que lembra stêncil, feita em ocasião da inauguração do museu. Ou seja, desde 1967 a instituição já propõe a convivência da arte contemporânea com o acervo científico/histórico, uma saída bastante usada nos dias de hoje.

24.8.11

Again and again | Castillo Corrales


O bairro de Belleville tem vários ateliês de artistas e alguns espaços mais alternativos, sem muitas galerias comerciais. Um dos espaços mais conceituados é a Castillo Corrales. O nome se refere a dois lutadores rivais, o americano Diego Corrales e o mexicano José Luis Castillo, algo como um Fla Flu. O pequeno espaço expositivo funciona junto de um escritório e foi criado por alguns artistas, curadores e escritores, que as vezes também propõem curadorias em outros lugares. 

A intenção é boa mas ainda não dei sorte com as exposições que vi por lá, as curadorias costumam ser um pouco enigmáticas, você sai se perguntando o viu mesmo ali. Fui hoje e estava fechado, assim, inadvertidamente, mas como é um projeto independente e a cidade está de férias a gente não reclama. O espaço expositivo é minúsculo e dá pra ver inteiro da vitrine, então considerei vista. Roubei umas imagens do site com as peças mais significativas, as esculturas de Oscar Tuazon (de madeira) e de Katinka Bock (a que parece um Paulo Monteiro atropelado). Aliás, Tuazon é um dos fundadores do espaço e suas esculturas costumam ser mais legais do que essa da foto. 

E saindo da Castillo Corrales rumo ao metrô de Belleville vemos essa instalação de Ben Vautier no prédio da frente.

23.8.11

Sophie Calle | Palais de Tokyo







O Palais de Tokyo inagurou seu novo espaço expositivo de 9000 m2, ainda em obras, com a exposição "Rachel Monique", de Sophie Calle. Até então, o anexo ainda estava separado do resto do museu por uma pequena entrada subterrânea mas o plano é reconfigurar todo o espaço, com inauguração prevista para a primavera de 2012. Ou seja, a exposição de Sophie Calle aconteceu literalmente em um canteiro de obras, inclusive com algumas areas ainda interditadas.

A exposição é uma homenagem à sua mãe falecida, Rachel. Sophie escreve no texto de abertura que ela era bastante vaidosa e se ressentia de não ser assunto das obras da filha - quando a artista colocou uma câmera de vídeo em seu leito de morte, a mãe exclamou: "enfim!" (o vídeo da mãe agonizando é apresentado nesta exposição). 

Sophie usa aqui alguns procedimentos que lhe são característicos, como a acumulação, a repetição, listas e inventários, maneiras obsessivas de cercar totalmente um assunto (como as 300 mulheres que leram e interpretram sua carta de rompimento em "Prenez soin de vous",  mostra levada ao Sesc Pompeia paulistano pelo Videobrasil). A palavra "Souci" (preocupação), a preferida de sua mãe, aparece diversas vezes, em diferentes materiais e suportes. Há uma lista de todos os objetos que foram enterrados junto ao corpo da mãe e também o registro em foto. Placas de mármore gravadas com nomes de doenças são agrupadas no chão. Um mural com fotos de sua mãe em diversas fases da vida e outros objetos pessoais também são expostos. A narrativa, real ou ficcional, aparece em alguns trabalhos desta exposição, como na série de vídeos e fotos da viagem de navio que a artista fez para atirar as jóias de sua mãe ao mar - ou simplesmente na necessidade de contar a histórias dos objetos através de bilhetes e cartazes como, por exemplo, a girafa empalhada que vem acompanhada de um texto revelando que comprou o objeto para seu ateliê depois que sua mãe morreu, para se recordar de seu olhar sempre altivo, "vindo de cima". A exposição é obcecada por objetos mas de alguma forma eles não são tão importantes. Como na exposição "Prenez Soin de Vous", que foi uma exposição sobretudo de fotografias de grande apelo formal, porém totalmente secundárias.

Apesar do novo espaço subterrâneo se assemelhar a uma grande tumba, algo que destoou nesta exposição do Palais de Tokyo foi a expografia, que incorporou o contexto do canteiro de obras de maneira bastante literal e apresentou os trabalhos de forma "rústica", usando como suporte as caixas de transporte de obras, estruturando uma sala de vídeo em sacos de cimento (e dentro, o vídeo de Rachel no leito de morte), escolhendo a parede com os buracos mais decorativos para projetar um vídeo ao lado. Uma apresentação tosca milimetricamente calculada. Estranho, se levarmos em conta que Sophie Calle geralmente é bastante exigente e inteligente na apresentação de seus trabalhos. 

FIAC | Grand Palais e Louvre









A FIAC é a feira de arte contemporânea de Paris, com galerias de todo o mundo. Ao contrário de outras feiras internacionais que geralmente acontecem em galpões ou centros de convenções, a de Paris destoa por estar no Grand Palais e no Louvre. Ou seja, dois locais de forte carga histórica. Por um lado é uma forma de demonstrar poder e tradição cultural, mas por outro lado as galerias preferem um local mais neutro para exibir arte contemporânea, então a solução foi cobrir tudo de carpete e demarcar o espaço com baias brancas. Algumas galerias tentaram se diferenciar e arrancaram o carpete de seu perímetro. 

Algumas galerias se destacaram e mostraram seleções mais interessantes, como Florence Loewi (Paris), Zürcher (NY-Paris), Jousse Enterprise (Paris), Semiose (Paris), Lombard Freid (NY). Feira de arte contemporânea é uma boa oportunidade para ver centenas de trabalhos recentes e sem nenhuma afetação, pois está tudo amontoado: o carpete cinza faz tábula rasa. Como tem muita coisa, a gente não perdoa e só lembra depois de 5% que interessam.


Após passar uma tarde vendo centenas de trabalhos recentes dos artistas de galerias de várias partes do mundo, fica a impressão de que paira no ar uma certa tendência ao absurdo, um tipo de arte sem pé nem cabeça, despretensiosa, onde o maior compromisso parece ser tirar sarro dela mesma. Como essas esculturas das fotos: arco-íris gigante em papel maché, cinzeirão degradé, caçamba de lixo em relevo religioso ou o poste jogado no chão. Uma pista: a FIAC edita e distribui essa revista chamada "Le Marché de l'art contemporain - le rapport annuel Artprice" ("O mercado da arte contemporânea - relatório anual Artprice) e, nesta edição, encontramos uma tabela sobre a valorização e desvalorização de alguns artistas, sendo que Martin Kippenberger aparece como um dos mais cotados, tendo valorizado astronomicamente entre 2009 e 2010. Será que isso explica?