23.8.11

Sophie Calle | Palais de Tokyo







O Palais de Tokyo inagurou seu novo espaço expositivo de 9000 m2, ainda em obras, com a exposição "Rachel Monique", de Sophie Calle. Até então, o anexo ainda estava separado do resto do museu por uma pequena entrada subterrânea mas o plano é reconfigurar todo o espaço, com inauguração prevista para a primavera de 2012. Ou seja, a exposição de Sophie Calle aconteceu literalmente em um canteiro de obras, inclusive com algumas areas ainda interditadas.

A exposição é uma homenagem à sua mãe falecida, Rachel. Sophie escreve no texto de abertura que ela era bastante vaidosa e se ressentia de não ser assunto das obras da filha - quando a artista colocou uma câmera de vídeo em seu leito de morte, a mãe exclamou: "enfim!" (o vídeo da mãe agonizando é apresentado nesta exposição). 

Sophie usa aqui alguns procedimentos que lhe são característicos, como a acumulação, a repetição, listas e inventários, maneiras obsessivas de cercar totalmente um assunto (como as 300 mulheres que leram e interpretram sua carta de rompimento em "Prenez soin de vous",  mostra levada ao Sesc Pompeia paulistano pelo Videobrasil). A palavra "Souci" (preocupação), a preferida de sua mãe, aparece diversas vezes, em diferentes materiais e suportes. Há uma lista de todos os objetos que foram enterrados junto ao corpo da mãe e também o registro em foto. Placas de mármore gravadas com nomes de doenças são agrupadas no chão. Um mural com fotos de sua mãe em diversas fases da vida e outros objetos pessoais também são expostos. A narrativa, real ou ficcional, aparece em alguns trabalhos desta exposição, como na série de vídeos e fotos da viagem de navio que a artista fez para atirar as jóias de sua mãe ao mar - ou simplesmente na necessidade de contar a histórias dos objetos através de bilhetes e cartazes como, por exemplo, a girafa empalhada que vem acompanhada de um texto revelando que comprou o objeto para seu ateliê depois que sua mãe morreu, para se recordar de seu olhar sempre altivo, "vindo de cima". A exposição é obcecada por objetos mas de alguma forma eles não são tão importantes. Como na exposição "Prenez Soin de Vous", que foi uma exposição sobretudo de fotografias de grande apelo formal, porém totalmente secundárias.

Apesar do novo espaço subterrâneo se assemelhar a uma grande tumba, algo que destoou nesta exposição do Palais de Tokyo foi a expografia, que incorporou o contexto do canteiro de obras de maneira bastante literal e apresentou os trabalhos de forma "rústica", usando como suporte as caixas de transporte de obras, estruturando uma sala de vídeo em sacos de cimento (e dentro, o vídeo de Rachel no leito de morte), escolhendo a parede com os buracos mais decorativos para projetar um vídeo ao lado. Uma apresentação tosca milimetricamente calculada. Estranho, se levarmos em conta que Sophie Calle geralmente é bastante exigente e inteligente na apresentação de seus trabalhos.